30 de set. de 2011

Papo de Domingo - 27º Domingo Comum


“O REINO DE DEUS VOS SERÁ TIRADO...”


(Mt 21,43)

Olá amigos! Nas últimas semanas, temos escutado os discursos de Jesus a respeito da fundação do novo Israel, a Igreja. No 25º Domingo ele nos falou dos trabalhadores da vinha – os da primeira e da última hora: em sua Igreja, que deve ser germe do Reino, todos são convidados ao trabalho. Semana passada, o Senhor exortou os Anciãos e Sumos-Sacerdotes a respeito de sua pretensão em serem os donos da Lei, e corajosamente anunciou que os publicanos e as prostitutas disseram ‘sim’ por primeiro e entraram no Reino dos Céus: por isso, a Igreja é lugar para pessoas pecadoras, que confiam primeiramente na graça de Deus. Hoje, Jesus proclama que os Sumos-Sacerdotes e Anciãos do Povo roubaram o lugar de Deus no cuidado de sua Vinha.
Qual atitude deve assumir aquele que foi chamado ao cuidado da Vinha do Senhor, isto é a Igreja? Aqueles que têm cargos de liderança, como devem agir? Hoje, nosso Papo de Domingo trata deste assunto! Que o Senhor nos ajude e nos alimente com sua Palavra a fim de que sejamos dóceis a seus ensinamentos!
Tomaram o lugar de Deus...
O Profeta Isaías fala-nos de um momento extremamente difícil da história do Povo de Deus. Por volta do ano 725a.C. os reinos de Israel e Judá (que se haviam dividido dois séculos e meio antes, logo após a morte do Rei Salomão) eram ameaçados pelo poderoso Império Assírio. É neste período que Isaías profere o oráculo da primeira leitura. O profeta preocupava-se com o comportamento do povo de seu tempo, que tendia a crer mais nas alianças políticas do que no cuidado de Deus para com ele. Israel e Judá são comparados à vinha plantada, cercada, cuidada, mas que só produz frutos de injustiças e de destemor para com seu Deus. E isto só poderia resultar em desgraça. Deus era a segurança, não as alianças, os conchavos, a corrupção. E sem Deus para lhes dar garantia de vida, Israel e Judá ficavam desprotegidos. De fato, no ano 722a.C., os Assírios invadiram Israel e destruíram as 10 tribos aliadas, que nunca mais voltariam a se reunir. A esperança da Aliança permaneceu apenas com Judá. A vinha cuidada antes com tanto amor, foi devastada não como castigo, mas porque confiou apenas em si mesma, colocando-se no lugar de Deus, e escolheu a guerra à paz. Escolheu matar ao invés de defender a vida. “A vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel, e o povo de Judá, sua dileta plantação; eu esperava deles frutos de justiça — e eis a injustiça; esperava obras de bondade — e eis a iniquidade.” (Is 5,7).
Jesus, no Evangelho, retoma a mesma temática da Vinha de Isaías, mas em outro contexto histórico. Cerca de 750 anos depois daquela profecia, o povo judeu (da antiga tribo de Judá), já havia perdido a autonomia política há quase meio milênio. Jesus, portanto, não está falando de política externa – outro é seu assunto. Na verdade, diferente da vinha descrita por Isaías, a Vinha descrita por Jesus não produz frutos ruins, mas sim bons frutos! A questão toda gira ao redor daqueles que foram escolhidos como responsáveis por cuidar da vinha, que se sentiram no direito de desprezar o Proprietário, expulsando seus enviados e matando seu Filho.
A questão agora se inverte. Jesus não está falando de problemas político externos, mas de questões internas. E não fala de todo o povo (a vinha), mas dos responsáveis por ela: os vinhateiros. Do meio do povo surgem homens e mulheres que têm respondido “sim” ao apelo de Jesus. Até mesmo os publicanos e prostitutas, que antes eram considerados como a escória da sociedade, agora aceitam o Evangelho e são admitidos à mesa do Reino! A vinha tem produzido os frutos de justiça reclamados por Isaías! O problema não é de todo Povo, mas daqueles que os governam. Estes não têm compreendido que são “empregados” e não “proprietários”. E que o Dono da Vinha tem o direito sobre ela, e que quer agir no meio dela como “proprietário”, ou seja, com plenos direitos. Os Sumos-Sacerdotes e Anciãos do  povo consideraram-se os donos e entraram em contenda com Deus, na pessoa de seu Filho Jesus, matando-o e pretendendo roubar para si o direito sobre os ramos que produziam frutos. Mas a Vinha lhes foi tirada...

Donos de Deus?
O Papo de Domingo ficou sério, não é mesmo? Mas é que o assunto é sério de verdade. Estamos falando da obra de Deus, de seu Reino e de sua Igreja, seu povo. As leituras deste final de semana, mesmo que façam referência histórica a problemas do passado, falam de movimentos humanos que costumam se repetir nesta longa história de Deus com os seres humanos! Aconteceu com Israel e Judá, aconteceu entre Jesus e os chefes do seu povo e acontece conosco – Igreja.

Sim, amigos! Deus tem suscitado em nosso meio homens e mulheres chamados a cuidar de sua vinha: hierarquia, religiosos e religiosas, coordenadores, assessores, ministros em diversos serviços... Todos chamados ao trabalho na vinha do Senhor, que tem produzido muitos frutos para o Reino de Deus. E este trabalho é lindo! Porém, arriscado. Santo Agostinho dizia a respeito de seu ministério junto ao povo: “Atemoriza-me o que sou para vós; consola-me o que sou convosco. Pois para vós sou Bispo; convosco sou cristão. Aquilo é um dever; isto, uma graça. O primeiro é um perigo; o segundo, salvação”  (Sermo 340, 1: PL 38, 1483).

Santo Agostinho bem sabia que a salvação não depende dos cargos que exercemos dentro da comunidade cristã, nem sequer do sagrado ministério episcopal, do qual participava (e que é muito mais que um simples cargo!). A salvação depende de Deus, que nos salvou em seu Filho Jesus Cristo e nos fez partícipes de sua Vinha. Ser cristão é infinitamente superior a qualquer título, honra, ministério, cargo, coordenação ou outras atividades que podemos exercer no seio da Igreja. E isto nos basta! Pois os títulos, cargos e ministérios, mesmo os mais sagrados, são um grande risco. Lúcifer é um anjo de luz, que se envaideceu de sua beleza... A queda humana em Adão e Eva se deu porque quiseram “ser como deuses, conhecedores do bem e do mal” (Gn 3,5).
Mas não faltam exemplos de momentos em que nossas lideranças se esquecem disto... Você, jovem coordenador, eu sacerdote e todos os que exercemos papel de liderança, precisamos compreender e viver nosso pastoreio de acordo com aquele que “veio para servir e não para ser servido” (Mt 28,20). E o serviço ao Povo de Deus não nos dá nenhum “direito” sobre este mesmo povo, nem sequer algum privilégio diante de Deus, porque “somos servos inúteis; fizemos apenas o que devíamos fazer” (Lc 17,10).
Não podemos nos esquecer que o Pai do Céu é o dono da vinha, e que Ele nos envia seu Filho todos os dias para nos pedir contas de nosso serviço prestado, a fim de que entreguemos a Ele os frutos do nosso trabalho. E este Filho às vezes nos surpreende em uma crítica feita por um membro do grupo, em uma avaliação nem sempre positiva, em um novato(a) que nos questiona, em um movimento ou outro grupo diferente do nosso, em um superior que nos exorta... Ele se apresenta da maneira que Ele considera conveniente, afinal Ele é o Herdeiro da vinha, não nós. Na verdade, Ele mesmo é “a Videira Verdadeira e seu Pai o Agricultor” (Jo 15,1). E precisamos ter o coração aberto e preparado para acolhê-lo e sempre nos colocar em situação de conversão constante. Os cargos são um risco... Mas também uma oportunidade para nossa santificação, a fim de que nos assemelhemos mais ao Senhor que lavou os nossos pés!
O Filho nos vem até nós, sua Videira
Não somos donos de Deus... É Ele quem nos possui! E Ele vem até nós da forma mais surpreendente que seria possível a um Deus. Ele se faz presente por meio de seu Filho nos frutos de nosso trabalho: o Pão e o Vinho! Estes são sinais fortes de que nosso serviço prestado na Vinha do Senhor, que é a Igreja, transformam-se em presença de Jesus no meio do mundo. Não nos cansemos de trabalhar por Ele, mas também cuidemos para dar o senhorio somente a Ele, que conta conosco como servos pequenos e frágeis. E é somente disto que Ele precisa para atuar no mundo! Não precisa de super-homens nem de super-mulheres: precisa de mim e de você do jeito que somos – simples – para que nosso orgulho não ofusque a beleza de Deus!

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