2 de nov. de 2011

Crise de referências

Daniel Rubens - 31/Julho/2011


Amy Winehouse

Nesses dias em que fomos bombardeados com notícias acerca da morte da cantora britânica Amy Winehouse, lembrei do trecho de uma música do Cazuza - que tambémmorreu prematuramente - e percebi que posso reescrevê-la pelo avesso: “meus heróis não morreram de overdose!“
Mesmo sem o resultado da autópsia é bem provável que a morte de Amy tenha sido resultado direto ou indireto do abuso de drogas. Sei que uma das características marcantes do humano é a adoção, mais ou menos explícita, de modelos de identificação. Assim, o pai ou a mãe, um tio ou tia, professor, um avô ou avó ou mesmo alguma figura pública, parece encarnar alguns dos ideais que almejamos e se tornam assim modelos de identidade para nós. Desde que não percamos o senso das nossas fronteiras pessoais, o que representaria uma fusão fantasiada com tais modelos, o fenômeno pode ser visto numa perspectiva positiva. Particularmente na juventude, quando se fala numa crise normal de identidade, a assunção de modelos pode ser saudável para o desenvolvimento. O preocupante é que esses modelos de identificação não são obras do além, mas são produtos sociais historicamente constituídos. E quais são os modelos propostos atualmente
Numa das muitas reportagens sobre a morte da cantora britânica, mais especificamente sobre o bairro londrino onde ela vivia, dava para perceber que o padrão vigente era não ter qualquer padrão: cabelos vermelhos, verdes, amarelos, longos ou espetados, piercings, tatuagens e roupas completamente disformes. Nada contra! É apenas uma constatação. O curioso é que o repórter televisivo com uma gola pólo cinza é que parecia “esquisito”. Será que esse “visual despojado” não é um pequeno sinal de uma “existência despojada”? E como ela está na moda atualmente! Sem compromissos, sem ligações à causa nenhuma e, no mais das vezes, sem qualquer noção de sentido de vida, paradoxalmente cheia de vazio... É apenas uma hipótese!Definitivamente meus heróis não morreram de overdose! O psiquiatra austríaco Viktor Frank teve uma grande penetração intuitiva quando no século passado diagnosticava que a nossa sociedade vivia uma profunda crise de sentido. Isso é ainda mais válido para o presente momento! A drogadicção pode não ser uma doença, mas um sintoma de uma doença que tem corroído os homens por dentro: “não há sentido na minha vida! Para que viver?” E nem queira uma solução pronta estilo fast-food: “passa um remédio aí doutor!” Sem compromissos duradouros, sem causas a defender, sem tradições religiosas que nos indiquem qualquer sentido... a existência tem caminhado à deriva. Antes de considerar Amy uma heroína a tenho como mais uma vítima do vazio existencial dos nossos dias.

Urge reencontrar um sentido pra viver e o bom é que ele existe!
Daniel Rubens
Psicólogo com especialização em logoterapia e Análise Existencial

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